Com o objetivo de compartilhar conhecimentos e conhecer experiências sobre políticas públicas municipais destinadas a imigrantes e refugiados, representantes locais de entidades de alcance mundial – como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e a Igreja Católica (Cáritas Regional Paraná, Cáritas Toledo, Diocese de Toledo e Ação Evangelizadora Toledo) – estiveram em Toledo nesta quarta-feira (4) para uma agenda intensa de compromissos. O primeiro deles foi no início da tarde na Sala de Reuniões do Gabinete do Prefeito, onde o grupo foi recebido pelo vice-prefeito Ademar Dorfschmidt, por servidores das secretarias de Assistência Social (SMAS), do Agronegócio, de Inovação, Turismo e Desenvolvimento Econômico (AgroDesenvolvimento) e de Políticas para Infância, Juventude, Mulher, Família e Desenvolvimento Humano (SMDH), e do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD).
O ponto central da conversa foi a empregabilidade das pessoas que saem de seus países de origem em busca de uma nova oportunidade no Oeste do Paraná. “Estamos em jornada pelos municípios ouvindo deles quais são suas principais demandas em relação a este assunto. Este diálogo é salutar, pois aí, juntos, pensamos e propomos políticas públicas que integrem imigrantes e refugiados às comunidades locais de forma ordenada”, observa a secretária regional da Cáritas Paraná, Márcia Ponce. “Temos a parceria com a Cáritas Brasil desde 2015 e, a partir disso, estamos ampliando nossos canais de diálogo com lideranças de todas as esferas. Vim a Toledo com o objetivo tanto de escutar a respeito das ações que estão sendo empreendidas quanto o de colocar-se à disposição dos municípios que temos visitado”, pontua o assistente sênior de Proteção do Acnur, Willian Laureano. “Por meio deste importante organismo de caridade da Igreja Católica, estamos conseguindo ampliar nosso contato com autoridades municipais Sabemos da importância estratégica desta questão para o desenvolvimento regional e estamos dispostos a ajudá-los a estruturar uma governança local de imigração”, relata a coordenadora de projetos da OIM, Talita Aquino de Sousa. “A Igreja Católica tem contribuído com esta questão de forma pontual, com ações isoladas nas paróquias. Daí, a importância de estruturá-las e institucionalizá-las, tornando-as permanentes. Eis porque somos parceiros da Embaixada Solidária e vamos apoiar todas as iniciativas que o município fizer nesta direção”, assegura o coordenador da Ação Evangelizadora Toledo, padre André Mendes.
O que está sendo feito?
Após a explanação dos convidados, o diretor da Agência do Trabalhador de Toledo, Rodrigo Souza, apresentou um panorama do mercado laboral local do ponto de vista da inserção de imigrantes e refugiados. “Felizmente, o nível de desemprego entre este grupo é baixo, com criação constante de novos postos de trabalho que são ocupados rapidamente. À medida que estes colaboradores conhecem mais a nossa cultura, percebe-se também uma mudança gradual no perfil de emprego que eles passam a ter. Se antes praticamente todos eram empregados pela indústria, agora alguns estão indo trabalhar em estabelecimentos comerciais ou de prestação de serviços”, pontua. “Estamos acompanhando esta mudança no dia a dia, pois temos um setor especializado no atendimento a trabalhadores não brasileiros. Além de saber uma plataforma que permite a tradução do português para o idioma nativo e vice-versa, designamos uma servidora para fazer a intermediação entre eles e potenciais empregadores, encaminhando e monitorando a situação de cada candidato”, relata.
Os titulares da SMAS (Solange Silva dos Santos Fidelis), do AgroDesenvolvimento (Diego Bonaldo) e da SMDH (Rosiany Favareto) falaram sobre as ações que cada pasta está desenvolvendo para a empregabilidade de imigrantes e refugiados que residem em Toledo. “É preciso pensar esta questão não só em âmbito municipal. Temos que criar condições para que as prefeituras das cidades do nosso entorno também saibam como lidar com a chegada de famílias cujos adultos trabalham aqui, mas vão morar lá por encontrarem um aluguel mais barato. Isso deve ser feito ampliando e melhorando seus equipamentos públicos, mas também por meio de uma política de acolhimento”, avalia Diego. “Atualmente, temos pessoas de 30 nacionalidades diferentes inscritas no CadÚnico [cadastro único mantido pelo governo federal com o qual é possível acessar benefícios sociais] e nossa Casa de Passagem já deu abrigo temporário a cidadãos e famílias de 10 nacionalidades. Estes dados comprovam a situação de vulnerabilidade na qual os imigrantes e refugiados estão inseridos. Por isso, nossas equipes precisam ser cada vez mais capacitadas a trabalharem com este público, levando em conta as nuances culturais de cada etnia”, comenta Solange. “Temos o sonho de criar aqui uma ‘Central do Imigrante’, que viria para ajudar este público a acessar, de forma plena, serviços públicos de saúde, educação, assistência social, entre outros. Contudo, é um processo lento, que está sendo construído gradativamente. Estamos ouvindo sugestões e buscando referências de municípios que já fazem isso, como São Paulo, que criou o Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (Crai) e colocou em sua equipe colaboradores de várias nacionalidades. Assim, quem chega lá tem a certeza de que poderá ser atendido por alguém que vive a mesma cultura que a sua”, comenta Rosiany.
Legado e presentes
Ao fim da reunião, o vice-prefeito falou da Embaixada Solidária, organização não governamental que apoiou desde os primeiros momentos, quando ainda era vereador. “A coragem da Edna [Nunes, fundadora da entidade] de encarar os preconceitos que havia (e ainda há) em torno do assunto e ajudar os imigrantes que chegam aqui com inúmeras dificuldades fez de Toledo uma referência no assunto. Admiro e aplaudo o trabalho dela e do grupo que lidera, mas é necessário que o governo municipal esteja presente, com políticas permanentes. Temos uma gestão na qual este assunto é tratado como prioridade, mas é fundamental que se possa deixar um legado”, salienta Ademar. “Recentemente firmamos, por meio da AgroDesenvolvimento e da SMDH, uma parceria com a Embaixada Solidária com o objetivo de facilitar a contratação de trabalhadores vindos de outros países e, a partir disso, o prefeito Beto Lunitti e eu temos a convicção de que estamos no caminho certo, tanto que até a ONU enviou, por meio da Acnur, um representante para conhecer nossas práticas. Agradeço ao apoio dado por este órgão, bem como pela OIM e pela Cáritas”, complementa.
Ao fim da reunião, dois presentes: primeiro, o anúncio feito por Márcia Ponce de que servidores da delegacia de Cascavel da Polícia Federal, órgão responsável pela emissão de vistos de trabalho para não brasileiros, ministrarão, em breve, capacitação para acadêmicos de Direito do câmpus local da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) realizarem este procedimento em mutirões que serão realizados em Toledo, reduzindo a fila e o tempo de espera para a emissão do documento, acelerando a inserção de imigrantes e refugiados no mercado laboral regional; o segundo, dado pelo governo municipal aos convidados: um exemplar, para cada um, do livro “Toledo 70 Anos: passado, presente e futuro”.
Continuidade
Após a reunião no Paço Municipal, a comitiva seguiu para a sede da unidade local da Agência do Trabalhador. Na ocasião, houve a apresentação do Currículo Top, plataforma digital que rendeu a Toledo o Prêmio Gestor Público Paraná 2021, foi relançado em mais três idiomas (espanhol, inglês e criole haitiano) com o objetivo de facilitar o uso por trabalhadores imigrantes e refugiados.
Na sequência, os representantes de Acnur, OIM e Cáritas participaram de reunião na Câmara Técnica de Empregabilidade da Associação Comercial e Empresarial de Toledo (Acit). Dali, dirigiram-se à sede da Embaixada Solidária, onde estes órgãos oficializaram uma parceria com a entidade. Por fim, neste mesmo local, todos foram convidados a apreciar um delicioso café da tarde.