Por João Gabriel Alvarenga, Fernando Evans, Marcello Carvalho, Gabriella Ramos, Arthur Menicucci, Arthur Stabile, g1 Campinas e Região
Aeronave que saiu de Cascavel (PR) com destino a Guarulhos (SP) voou por 1 hora e 35 minutos sem qualquer ocorrência, mas depois fez uma curva brusca, despencou 4 mil metros em 1 minuto e explodiu na garagem de um condomínio residencial.
O avião com 57 passageiros e quatro tripulantes que caiu em Vinhedo (SP), nesta sexta-feira (9), voou por 1 hora e 35 minutos sem qualquer registro de ocorrências, até fazer uma curva brusca, despencar 4 mil metros em aproximadamente 1 minuto e sumir do radar, após explodir no terreno de uma casa em um condomínio residencial. Não houve sobreviventes.
Ainda não se sabe o que causou o acidente, mas a queda em espiral sugere a ocorrência de um estol — que acontece quando a aeronave perde a sustentação que lhe permite voar —, segundo especialistas.
Veja, abaixo, da decolagem à queda, a cronologia do acidente da Voepass, o maior do país em número de vítimas desde 2007, quando um avião atingiu edifício em São Paulo ao tentar pousar.
- A aeronave decolou às 11h46 e o voo seguiu tranquilo até 12h20.
- Após 24 minutos, subiu até atingir 5 mil metros de altitude às 12h23, e seguiu nessa altura até as 13h21, quando começou a perder altitude.
- Nesse momento, a aeronave fez uma curva brusca.
- De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), a partir das 13h21 a aeronave não respondeu às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo, bem como não declarou emergência ou reportou estar sob condições meteorológicas adversas.
- Às 13h22 – um minuto depois do horário do último registro – a altitude estava em 1.250 metros, uma queda de aproximadamente 4 mil metros.
- A velocidade dessa queda foi de 440 km/h.
- O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) informou que o ‘Salvaero’ foi acionado às 13h26 e encontrou a aeronave acidentada dentro de um condomínio.
- O que se sabe e o que falta saber
- Um avião da companhia aérea VOEPASS com 61 pessoas caiu em um condomínio residencial de Vinhedo (SP), nesta sexta-feira (9), e ninguém sobreviveu. Veja, abaixo, o que se sabe e o que falta ser revelado sobre o acidente aéreo.
Quem são as vítimas?
Veja, em ordem alfabética, a lista dos passageiros e tripulantes:
- ADRIANA SANTOS
- ADRIANO DALUCA BUENO
- ADRIELLE COSTA
- ALIPIO SANTOS NETO
- ANA CAROLINE REDIVO (formada em 2014 em administração na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Unioeste, atualmente trabalhava como nutricionista)
- ANDRE MICHEL, de 62 anos (representante comercial, natural de Campo Bom, RS)
- ANTONIO DEOCLIDES ZINU JUNIOR
- ARIANNE RISSO (médica residente em oncologia no Hospital do Câncer de Cascavel)
- DANIELA SCHULZ FODRA (fisiculturista e mulher do passageiro Hiales Carpini Fodra; morava em Naviraí, MS)
- DANILO SANTOS ROMANO, de 35 anos (piloto do avião da Voepass; morava em São Paulo e trabalhava na companhia aérea desde 2022)
- DÉBORA SOPER AVILA, de 29 anos (comissária de bordo do avião da Voepass; natural de Porto Alegre)
- DENILDA ACORDI
- DEONIR SECCO (professor do curso de engenharia agrícola no campus de Cascavel da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Unioeste)
- DIOGO AVILA
- EDILSON HOBOLD, de 52 anos (professor do curso de educação física no campus de Marechal Cândido Rondon Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Unioeste; atuou por muitos anos como árbitro de judô)
- ELIANE ANDRADE FREIRE
- GRACINDA MARINA CASTELO DA SILVA (professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná e mulher de Nélvio José Hubner)
- HADASSA MARIA DA SILVA (formada em ciências contábeis no campus de Cascavel da Universidade Federal do Oeste do Paraná, Unioeste)
- HIALES CARPINE FODRA, de 33 anos (policial rodoviário federal e marido de Daniela Schultz Fodra; nascido em Moreira Sales, PR, morava em Naviraí, MS)
- HUMBERTO DE CAMPOS ALENCAR E SILVA, de 61 anos (copiloto do avião da Voepass)
- IOSLAN PEREZ
- ISABELLA SANTANA POZZUOLI
- JOSÉ CARLOS COPETTI, de 45 anos (gerente de logística, morava em Jacareí, SP)
- JOSÉ CLOVES ARRUDA, de 76 anos (aposentado e marido de Maria Auxiliadora Vaz de Arruda; morava em Guaratinguetá, SP)
- JOSÉ ROBERTO LEONEL FERREIRA (médico radiologista do Hospital Policlínica de Cascavel e professor aposentado na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Unioeste)
- JOSGLEIDYS GONZALEZ
- KHARINE GAVLIK PESSOA ZINI
- LAIANA VASATTA (advogada)
- LEONARDO HENRIQUE DA SILVA
- LIZ IBBA DOS SANTOS, de 3 anos (filha do passageiro Rafael Fernando dos Santos, morava em Florianópolis)
- LUCAS FELIPE COSTA CAMARGO
- LUCIANI CAVALCANTI
- LUCIANO TRINDADE ALVES
- MARIA AUXILIADORA VAZ DE ARRUDA, de 74 anos (aposentada e mulher de José Cloves Arruda; morava em Guaratinguetá)
- MARIA PARRA
- MARIA VALDETE BARTNIK
- MARIANA BELIM (médica residente em oncologia no Hospital do Câncer de Cascavel e intensivista na UTI adulta do Hospital Universitário do Oeste do Paraná, HUOP)
- MAURO BEDIN
- MAURO SGUARIZI
- MIGUEL ARCANJO RODRIDUES JUNIOR
- NÉLVIO JOSÉ HUBNER (procurador municipal em Toledo-PR e marido de Gracinda Marina Castelo da Silva)
- PAULO ALVES
- PEDRO GUSSO DO NASCIMENTO (analista de pesquisa de mercado, morador de Bom Jesus dos Perdões, SP)
- RAFAEL ALVES
- RAFAEL FERNANDO DOS SANTOS, de 41 anos (programador e pai da menina de Liz Ibba dos Santos, de 3 anos; morava em Florianópolis)
- RAPHAEL BOHNE (empresário nascido em Fortaleza)
- RAQUEL RIBEIRO MOREIRA (professora de pós-graduação em letras na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Unioeste)
- REGICLAUDIO FREITAS (empresário nascido em Limoeiro do Norte, CE)
- RENATO BARTNIK
- RENATO LIMA
- RONALDO CAVALIERE, de 43 anos (representante comercial, morava em Maceió)
- ROSANA SANTOS XAVIER
- ROSANGELA MARIA DEOLIVEIRA
- ROSANGELA SOUZA
- RUBIA SILVA DE LIMA, de 41 anos (comissária de bordo do avião da Voepass; trabalhava na companhia aérea havia 14 anos e morava em Ribeirão Preto, SP)
- SARAH SELLALANGER (pediatra, atendia no pronto-socorro do Hospital Universitário do Oeste do Paraná, HUOP)
- SILVIA CRISTINA OSAKI (veterinária e professora da Universidade Federal do Paraná-UFPR, onde dava aulas desde 2009)
- SIMONE MIRIAN RIZENTAL
- THIAGO ALMEIDA PAULA (representante comercial; nascido no Ceará, morava em Mossoró, RN)
- TIAGO AZEVEDO
- WLISSES OLIVEIRA (empresário nascido em Fortaleza)
Quais as hipóteses?
Ainda não se sabe o que causou o acidente, mas a queda em espiral sugere a ocorrência de um estol — que acontece quando a aeronave perde a sustentação que lhe permite voar —, segundo especialistas.
O estol é uma situação na qual a asa perde completamente a sustentação útil, o que causa a queda brusca do avião. A depender da altitude e da condição, é possível recuperar a altitude em voo.
Em entrevista na noite desta sexta, a VOEPASS afirmou que os sistemas operacionais da aeronave estavam todos em funcionamento no momento da decolagem em Cascavel.
Os especialistas avaliam que a formação de gelo sobre as asas pode ser uma das hipóteses. Apesar disso, todos são unânimes em afirmar que não existe um único fator que cause um acidente e que é prematuro tirar conclusões a partir dos vídeos ou das informações divulgadas.
Qual a aeronave que caiu?
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o modelo que caiu em Vinhedo, ATR-72-500 da VOEPASS, é turboélice com 74 assentos. A aeronave é fabricada pela ATR, com sede na França, que é uma das maiores fabricantes de aviação do mundo. Ela estava com a documentação em dia e todos os tripulantes tinham habilitação válida.
De acordo com a fabricante, o ATR-72-500 pode voar com velocidade máxima de 511 km/h. O modelo tem 27 metros de comprimento e de envergadura, além de uma autonomia de voo de 1.324 quilômetros. O peso máximo que o avião pode carregar em serviço é de 7 mil quilos.
O avião tinha 14 anos de fabricação e era de um modelo conhecido no mundo da aviação por sua capacidade de operar em aeroportos de pista curta e de difícil acesso no Brasil e em outras partes do mundo, especialmente na Ásia, onde houve outros acidentes.
Ficha técnica do ATR-72-500 (segundo a fabricante):
- Número de assentos: 74
- Velocidade de cruzeiro: 511 km/h
- Comprimento: 27 metros
- Envergadura: 27 metros
- Altura: 7,65 metros
- Autonomia de voo: 1.324 km
Como estava o tempo no momento da queda?
Meteorologistas apontaram “áreas de instabilidade” e 35% de formação de gelo nas proximidades do local onde o avião caiu.
De acordo com o Climatempo, no momento exato em que a aeronave estava fazendo a aproximação havia um “forte vento” de cauda – o que aumenta a velocidade do avião em relação ao solo.
“Estimativas de modelos meteorológicos indicam temperaturas entre -9° a -11° C na altura correspondente a 500hPa na região de Vinhedo por volta das 13h local”, disse o órgão.
O que diz a VOEPASS?
O CEO da Voepass Linhas Aéreas, Eduardo Busch, concedeu entrevista coletiva na noite desta sexta e afirmou que os pilotos eram experientes e que os sistemas operacionais da aeronave estavam todos em funcionamento no momento da decolagem.
Mais cedo, a companhia aérea comunicou em nota que prioriza prestar irrestrita assistência às famílias das vítimas e colabora efetivamente com as autoridades para apuração das causas do acidente.
“A VOEPASS Linhas Aéreas informa que a aeronave PS-VPB, ATR-72, do voo 2283, decolou de CAC sem nenhuma restrição de voo, com todos os seus sistemas aptos para a realização da operação”.
Investigação
A Força Aérea Brasileira (FAB) informou que oficiais do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) estão em posse das duas caixas-pretas do avião.
Militares do Seripa 4, órgão regional do Cenipa em São Paulo, chegaram em Vinhedo no final da tarde e, além de recuperar as caixas pretas, iniciaram os trabalhos de investigação do acidente.
Segundo a FAB, o modelo ATR-72 possui duas caixas-pretas: uma que era responsável por gravar o áudio da cabine dos pilotos e uma segunda gravava dados da aeronave. Elas serão levadas para Brasília.
Em nota, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) lamentou o acidente e disse que vai monitorar “a prestação do atendimento às vítimas e seus familiares pela empresa, bem como adotando as providências necessárias para averiguação da situação da aeronave e dos tripulantes”.
“A Aaeronave operada pela Voepass acidentada em Vinhedo (SP) nesta sexta-feira, 9 de agosto, um ATR-72, foi fabricada em 2010 e se encontrava em condição regular para operar, com certificados de matrícula e de aeronavegabilidade válidos. O voo contava com quatro tripulantes a bordo no momento do acidente e todos estavam devidamente licenciados e com as habilitações válidas.
A Anac continua monitorando a prestação do atendimento às vítimas e seus familiares pela empresa. Além disso, a Agência segue no acompanhamento dos desdobramentos das investigações do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa)”, disse a Anac.
Já a Polícia Federal instaurou inquérito para investigar o acidente. Um ‘gabinete de crise’ foi montado pela corporação na casa de um morador dentro do condomínio onde houve a tragédia.