Mais de 300 educadores participaram do evento que tratou sobre os desafios da educação contemporânea
Olhar para o presente, se perguntar qual o futuro e os desafios para a educação hoje e de que forma ela pode transformar vidas e nos conectar com o futuro. Essa pergunta foi a chave para o diálogo promovido nesta terça-feira em Toledo com a participação de mais de 300 professores da educação infantil e ensino fundamental da rede municipal de Nova Santa Rosa, Tupãssi, São Pedro do Iguaçu e Ouro Verde do Oeste, e uma iniciativa privada de Toledo – todos participantes do programa de educação cooperativa, A União Faz a Vida, uma iniciativa do Sistema Sicredi no Brasil.
Entre as várias atividades realizadas no 3º Encontro Regional, aconteceu a palestra “Competências e habilidades para o século XXI”, ministrada pelo professor e educador Juliano Costa.
Com o objetivo de dialogar com os professores e promover uma reflexão sobre quais são as habilidades e competências que eram valorizadas no século XX em contraposição ao que a atualidade exige, o palestrante recuperou na memória do público as referências e exigências que eram tidas como modelos a serem seguidos, como a habilidade de memorização de conteúdos que era tida como essencial para uma boa avaliação e desempenho escolar.
Ele levou os professores a refletirem se o modelo de escola que se tem e de avaliação e aprendizagem é suficiente diante das transformações culturais e tecnológicas que o mundo está vivendo. Costa defende que é necessária uma transformação cultural no modo de pensar a educação. “É preciso fazer com os professores sintam a dor daquele aluno que academicamente não performa, mas de forma atitudinal e comportamental ele performa. O professor precisa entender que o aluno pode ser um grande líder sem saber matemática bem, ele pode ser um grande comunicador, agregador sem saber química orgânica. Palestras como essa tem como objetivo abrir o coração dos professores para que ao sair daqui eles se empenhem em descobrir um novo mundo de educação”, salientou Costa que afirmou ainda que o professor tem papel fundamental na sociedade “ele é uma inspiração, uma referência, um líder na escola”.
Costa analisa que existe um grande desafio colocado para a escola no que se refere a sua base curricular. “Ainda existe uma base curricular que precisa ser mantida durante um bom tempo, porque quando nós estudamos história é para ter fundamentos para analisar a política atual. É necessário esse conteúdo clássico. O equívoco é pensar que devemos substituir o currículo clássico e tradicional por um currículo focado no que o século XXI precisa”, considera.
Ele defende que é necessário um currículo complementar, para além do tradicional. “É superimportante continuar discutindo Iluminismo, primeira e segunda guerra mundial, principalmente quando a gente tem um ex-ministro da cultura que reproduziu um discurso propagandístico nazista, você só vai saber disso se tiver estudado aquele período histórico e entendido as consequências dele”, afirma. O professor defendeu que o currículo tradicional deve ser preservado, mas redimensionado, e somado a ele um outro currículo seja construído focado em competências para o século XXI. “Esses novos currículos não são conteudistas. Na grande maioria se referem a atitudes e comportamentos. Nós estamos falando de inteligência socioemocional, de letramento digital, empreendedorismo, educação financeira, liderança, responsabilidade e cidadania global. Estamos falando de temas que não são comuns hoje à escola, às famílias, mas que estão vindo de fora para dentro. Isso está vindo da indústria, do comércio. Por exemplo, porque nós precisamos educar o letramento digital. Porque cada vez mais coisas se tornam inteligentes, carros autônomos, televisores, etc. Se nós não educarmos as crianças a apreender a conviver e usarem isso com responsabilidade e potência elas não vão ter empregabilidade, ter futuro”, alerta.
Por outro lado Costa afirma que se ao mesmo tempo se pararmos de ensinar matemática, história, geografia, física, ciências, elas também não vão ter futuro porque serão facilmente enganadas. “Elas vão incorrer, por exemplo, no aconteceu no estado de São Paulo no ano passado. Após 20 anos sem casos de sarampo, foram registradas 17 mil crianças doentes porque os pais, levados por fake News, acreditaram que a vacina causava autismo. Então o conhecimento científico acadêmico do século XX deve ser integrado ao conhecimento atitudinal e comportamental do século XXI”.
O professor defendeu que uma das formas para preencher essa lacuna na escola em relação as novas competências e habilidades do século XXI é por meio de projetos de aprendizagem socioemocional que podem ser desenvolvidos sem interferir no currículo regular. “Os alunos podem descobrir e mudar sua compreensão sobre temas como empatia e alteridade. E isso tem que ser feito por meio de outras metodologias e projetos complementares que preparem seus alunos e desenvolvam novas competências e habilidades exigidas na atualidade.” Na opinião de Costa é função do Estado construir políticas públicas que instrumentalizem novos currículos para além do tradicional. “A formação precisa ser transformada em política pública, no nível do município até federação. Temos que construir meios para que seja abraçado como legislação nacional, pois não dá para pensar isso restrito a sala de aula, a uma escola. Precisamos um país preparado para o século XXI, precisamos de estratégias federativas, que sejam suportadas por todo o aparato do Estado.
A União Faz a Vida
A metodologia do Programa disponibilizada para as escolas incentiva o protagonismo dos alunos no processo de aprendizagem. Através dele, o Sicredi visa contribuir para a educação integral de crianças e adolescentes, tendo por
propósito a construção e a vivência de atitudes e valores de cooperação e cidadania. Mais de 284 mil crianças e adolescentes e 24,5 mil educadores são impactados atualmente pelo Programa, em 1,9 mil escolas de 369 cidades do Brasil.
Promover a educação é um dos princípios do cooperativismo que alicerça o Programa A União Faz a Vida, principal iniciativa de responsabilidade social do Sistema Sicredi. E nesse sentido o presidente da Central Sicredi PR/SP/RJ e presidente Sicredi Participações S/A, Manfred Alfonso Dasenbrock, afirmou que o Programa tem o compromisso de impactar no desenvolvimento das comunidades. “Neste ano, estamos celebrando 25 anos de história de um programa que ao longo dessa caminhada foi evoluindo, e chegou a números extraordinários. São mais de 3 milhões de crianças e adolescentes impactados no Brasil, mais de 100 mil educadores envolvidos e que romperam os muros das escolas. Porque nós falamos de uma escola sem muros e, neste sentido, há uma interação, porque se trabalha com projetos que despertam o envolvimento de toda a comunidade escolar”, destacou Dasenbrock.
O presidente da Sicredi Progresso PR/SP, Cirio Kunzler, destacou que na área de ação da Cooperativa, no ano de 2019, foram 119 projetos realizados pelos professores nas escolas da região. “É fundamental que as escolas promovam estas vivências para os alunos. E nós queremos contribuir nesse processo de aperfeiçoamento da educação. Queremos colaborar para o desenvolvimento das comunidades onde estamos inseridos e perceber que a educação de qualidade está fazendo a diferença”. Nesse sentido, a assessora de desenvolvimento do cooperativismo pela Sicredi Progresso, Miriam Sell, argumenta que o Programa é uma metodologia ativa que requer uma mudança de pensamento. “A gente acredita que conseguimos transformar as realidades onde estamos por meio da educação, e isso está vinculado a um compromisso social e por isso investimos na questão da educação para desenvolver as comunidades de forma mais integrada”.
A professora do ensino fundamental do município de Tupãssi, Heloisa Roque, considera que o encontro é um ponta pé inicial para trabalhar com mais fervor e desafios. “Participar do programa é um desafio positivo que nos impulsiona a planejar, pesquisar, inovar na escola e ultrapassar as paredes da sala de aula e vivenciar o mundo. Estamos pesquisando e descobrindo um mundo novo e novas coisas, e essa formação vem plantar uma semente de forma dinâmica”, avaliou a professora. Heloisa relata que com os projetos e as novas metodologias a relação entre professor, aluno, escola e pais, e comunidade se transformou. “Quando fizemos a primeira expedição investigativa os alunos se envolveram e ficaram empolgados. O brilho nos olhos é contagiante. Dá para perceber que eles mostram uma curiosidade e é uma troca coletiva”