Palhaço Chukito: de Toledo à Arábia Saudita

O Circo da Alegria transformou a vida de muita gente nesses últimos 30 anos. Não só para quem se profissionalizou como artista, mas para inúmeras crianças que mudaram sua perspectiva de mundo e passaram a ter com mais frequência sorrisos em sua infância. Crescer em uma comunidade carente é difícil, mas quando se criam oportunidades e se cultiva esperança, as barreiras acabam se tornando menores. 

São inúmeros os relatos de ex-alunos da Escola Municipal Anita Garibaldi que passaram pelo Circo da Alegria e que melhoraram suas qualidades, venceram seus medos, aprenderam a encarar desafios, seja de falar em público ou de subir num trapézio ou perna de pau. Hoje vamos contar a história de um desses alunos, um menino que foi literalmente encantado pelo circo, entrou para as aulas fazendo “estrelinhas” e foi parar na Arábia Saudita, na tenda de um Sheik – título de um governante, considerado uma honra e algo prestígio. 

Maiko Elvino Ferreira

Ele começou no Circo da Alegria em meados dos anos 2000 e fazia todas as oficinas possíveis oferecidas. Na época, o Circo dos Trapalhões estava em alta e serviu de inspiração, assim como um primo que já participava das atividades. “Eu nem tinha idade e já queria fazer parte. Meu sonho era estar no circo, aquilo me encantava, comecei fazendo estrelinhas e pirâmide humana, na verdade, tudo que era possível eu fazia”, lembra Maikon Elvino Ferreira. 

Maikon trocou as brincadeiras convencionais dos meninos para frequentar o Circo da Alegria, mas não antes de ajudar a mãe em casa. “Comecei a frequentar o Circo da alegria nos horários que minha mãe menos precisava de mim em casa. Eu ia na escola de manhã, chegava em casa, almoçava, lavava a louça e limpava a casa, deixava tudo certinho para não ter reclamações mais tarde quando a mãe chegasse”, conta o artista. 

“Eu nunca fui aquele menino de ir para o rio [assim como os outros da época], pois tinha medo de encontrar uma cobra ou alguma coisa assim. Pra jogar bola eu era muito ruim. Eu tinha medo de chegar em casa machucado e apanhar da mãe, então eu preferia o circo né”, complementou. 

Os anos foram passando e Maikon cada vez mais envolvido. No final de 2003 alguns visitantes de passagem por Toledo informaram que tinham um circo em São Paulo e que estavam abrindo outra unidade, mas precisavam de pessoas para trabalhar como ajudante nas aulas, pois já tinham outros profissionais. Nessa altura, Maikon já era envolvido na organização dos espetáculos e outros eventos em Toledo, não pensou duas vezes antes de aceitar o convite.

“Fui para São Paulo com a família Jardim, que são os proprietários hoje do Circo Espacial e do Circo dos Sonhos. Na época eles abriram o Circo Escola chamado Academia Brasileira de Circo, onde eu era aluno e um ajudante de professor na Barra Funda no começo de 2004”, relata nostálgico. 

As oportunidades se expandiram para Maikon, também conhecido no meio artístico como Palhaço Chukito. Ele conheceu profissionais e famílias tradicionais que nasceram no meio do circo. Fez muitas amizades, oficinas com profissionais renomados e ampliou seus conhecimentos e habilidades. “Eu comecei no circo com quase 10 anos, muitos deles nasceram no circo, então eu aproveitei essa oportunidade graças ao Circo da Alegria e procurei aprender o máximo”, frisa. 

Entre várias personalidades, Chukito citou a professora de circo, Jaqueline Pepino Guimarães, e seu esposo, César Pepino Guimarães, proprietários do antigo Circo Moça Fiesta, primeiro circo no Brasil patrocinado pela Nestlé na época do auge do circo. “No lançamento do Leite Moça o ingresso para entrar no circo era o rótulo da latinha do Leite Moça. O César me ensinou trapézio de vôos e a esposa dele me ensinou o tecido, isso já no começo de 2005, eu estava engajado com ele, estava legal, inclusive assumi a função de professor na Academia Brasileira de Circo no lugar da Jaqueline”. 

Arábia Saudita

Os conhecimentos adquiridos no Circo da Alegria e aperfeiçoados em São Paulo levaram o Palhaço Chukito à sua primeira turnê internacional em junho de 2006, quando passou uma temporada de três meses na Arábia Saudita. Um Sheik comprou a lona do tradicional Circo Garcia com toda a estrutura e montou em um parque para a apresentação dos artistas brasileiros.

“Em 2007 o empresário disse que os caras queriam o Palhaço Chukito lá no Parque do Sheik de novo. E como o Circo da Alegria nos ensina a fazer um pouco de tudo, é uma formação profissional muito boa. Em 2006 eu fiz uma sátira de uma cantora que era considerada a Xuxa da Arábia Saudita para os baixinhos. Ninguém queria fazer, então falei eu vou e faço. Me deram uma peruca, uma roupa que ela fazia um clipe com um circo e acabou pegando”, explica Chukito. O resultado foram três temporadas seguidas (2006/2007/2008) nas terras do Sheik.

Gratidão

“Isso tudo eu devo graças ao mundo do Circo que eu conheci através do Circo da alegria. Sou eternamente grato às aulas de circo que eu tive com o Ademir Iung na minha época.  Ele era professor e a coordenadora era a Tânia Regina Piazzeta. Dado Guerra, nosso professor de teatro, era um produtor de iluminação de palco, nosso intercessor para brilhar um pouco mais a nossa arte do circo, além dos espetáculos no circo, nas escolas, nas quadras de esporte e nossos espetáculos quando iam para o Teatro Municipal. Era muito massa quando chegávamos e a galera dizia ‘é a turma do circo’”, relembra com muita emoção.

Maikon ficou 10 anos longe de Toledo e ficou encantado ao retornar ao Circo da Alegria. “Tudo com a mesma essência, mas com a roupagem muito nova, muito linda. Me sinto muito honrado por estar participando dessa Mostra de Circo e estar durante esse ano aqui. Gratidão ainda mais por aqueles que continuam dando vida a este lugar onde eu aprendi muito”, exaltou ao elogiar vários personagens que fizeram parte desta história. 

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