Em uma época pré-pandemia, o mês de agosto seria o período em que as atividades escolares já haviam retornado do recesso e oficialmente iniciado o segundo semestre do ano. Porém, em 2021, a conversa é outra. Após um 2020 complicado, meses de ensino completamente remoto e o avanço da vacinação contra a Covid-19 no Brasil, somente agora as escolas começaram a tomar o primeiro passo em direção à volta do modo presencial.
Segundo levantamento do Vozes da Educação, apenas os estados do Acre, Ceará, Paraíba e Roraima ainda não retornaram este mês, tendo a previsão para setembro e, no caso do Ceará, sem data definida este ano. Já a rede municipal, no que diz respeito às capitais brasileiras, apenas seis ainda irão retornar nos próximos meses. Por outro lado, as redes privadas de todo o Brasil já estão funcionando de forma híbrida, ou seja, parte das aulas são remotas e, outra, na escola. A expectativa é que toda a rede pública também passe a aderir ao formato.
Na opinião de Letícia Montandon, diretora do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), para que a volta às aulas seja verdadeiramente eficaz, ainda são necessários protocolos específicos de segurança que tornem as ações dos gestores mais ágeis.
“Quando se detecta contaminação em uma escola, como ela irá se comportar? A turma vai fechar? A escola fecha? Também não basta acontecer uma testagem depois que as pessoas estão contaminadas, é necessário que ocorra uma testagem de forma preventiva para que se evite antecipadamente o contágio. Os gestores das escolas precisam ter agilidade nos encaminhamentos quando tiver a suspeita ou a contaminação”, destaca.
Segundo Letícia, tais protocolos não foram inseridos no documento oficial de orientações de volta às aulas divulgado pela Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF). Outro ponto enfatizado por ela é a importância de a SEDF divulgar o número de casos confirmados de Covid-19 dentro das escolas após o início das aulas, para que assim, a eficácia do método de retorno seja monitorada.
Segurança
Um fator comum entre as orientações divulgadas pelas escolas públicas e privadas do Distrito Federal estão as boas e tradicionais recomendações que sempre são válidas relembrar: lavar e higienizar sempre as mãos, manter o distanciamento social e utilizar máscara de proteção. Em caso de sintomas e suspeita de Covid-19, os estudantes e funcionários devem ficar em casa e comunicar à direção da escola.
Por outro lado, nota-se algumas diferenças no retorno de ambos os tipos de instituições. Na pública, por exemplo, o sistema híbrido será feito por divisão de turmas e intervalos semanais, ou seja, em uma semana metade da classe estará presencialmente e a outra remotamente, na semana seguinte, a divisão é invertida e assim por diante. Enquanto nas escolas particulares, cada uma terá autonomia de organizar o próprio funcionamento do ensino híbrido.
Isabela Gonçalves Barbosa, de 14 anos, é estudante do 9º ano do CEF 05 de Taguatinga Sul no Distrito Federal. Ela diz que, apesar da insegurança pelo vírus, considera o retorno ao presencial essencial tanto para o seu psicológico, quanto para a educação, pois se sentia desmotivada com as aulas remotas.
“Para mim, psicologicamente, foi necessário a volta às aulas porque eu realmente estava precisando disso. Eu me sentia um pouco desmotivada só com a aula online, é tudo muito monótono, tudo a mesma coisa e isso cansa. E foi bom para mim o retorno das aulas presenciais, mas ainda tem aquela insegurança. Nós ainda não fomos vacinados, eu tenho 14 anos e ainda não chegou a minha idade”, declara.
Em relação aos protocolos de segurança, a estudante afirma que “eles são bem rígidos, ninguém fica sem máscara em momento nenhum”.
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Clara, de 9 anos, é estudante do 4° ano em uma escola particular de Taguatinga. Para a mãe, a fisioterapeuta Rosielen Batista, de 35 anos, a segurança é uma constante preocupação, mesmo com os métodos adotados pela escola. Isso porque após o retorno das aulas no ensino híbrido, uma das alunas na turma da filha teve caso de Covid-19 dentro da família.
“Mesmo com as medidas de segurança adotadas pela escola, cada suspeita, cada caso de Covid nos assusta. Porém, seguimos na esperança de dias mais tranquilos”, ressalta.
Prejuízo
Em relação ao tempo em que a filha estava somente no ensino remoto, Rosielen diz não ter observado um déficit de aprendizado e acredita que isso se deve à metodologia da escola e ao fato da assistência prestada a ela dentro de casa, seja em momentos de dúvidas ou acesso a tecnologias necessárias. A fisioterapeuta notou, no entanto, que Clara passou a apresentar efeitos da falta de interação social: “observamos sinais de irritabilidade, ansiedade e tristeza.”
Já o caso da jornalista Maira Buani foi diferente. Segundo ela, a alfabetização do filho João, estudante de 6 anos na Escola Classe 111 Sul, na Asa Sul, foi muito prejudicada pelo ensino remoto. Isso fez com que ela tomasse outras medidas, como a contratação de professora particular, para que João não sofresse consequências ainda maiores.
“Ele entrou na alfabetização online e não estava conseguindo aprender de jeito nenhum, eu tive que contratar uma professora particular pra dar aula para ele. Está sendo bem difícil, porque o prejuízo ficou, vamos tentar recuperar agora”, conta.
Por outro lado, o prejuízo nas crianças e adolescentes também pode se manifestar através do desinteresse dos mesmos após um período tão longe das escolas. Rafael Parente, PhD em educação pela Universidade de Nova York e ex-secretário de educação do Distrito Federal, ressalta a importância do diálogo entre pais e filhos caso aconteça essa desmotivação dos estudos.
“Na volta às escolas é importante que a gente converse bastante com as crianças e com os jovens sobre a importância da escola, sobre como a escola é um ambiente bom, bacana, prazeroso, como é importante aprender, rever os amigos, poder conhecer coisas novas, poder crescer. E também sobre o prazer da aprendizagem, o prazer de aprender o novo.”
Outro diálogo essencial pontuado por Rafael é o dos pais com os professores, principalmente em relação à saúde emocional das crianças que, muitas vezes, pode estar tão fragilizada quanto a dos adultos.
Fonte: Brasil 61