A participação feminina na produção de ciência tem ganhado cada vez mais presença no mundo. No Paraná, as mulheres são maioria entre os professores das universidades estaduais: as 3.954 professoras representam 52% do total de docentes. Elas realizam pesquisas científicas, coordenam grupos de pesquisa e laboratórios, além de atividades extracurriculares com as comunidades.
No domingo (11), foi celebrado o Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência, data instituída pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O objetivo da data é reconhecer e valorizar a participação feminina na produção de ciência e tecnologia.
“A presença das mulheres na área de pesquisa amplia o alcance e traz novas perspectivas para a produção do conhecimento. A mulher tem um papel fundamental nas universidades e nas instituições de Ciência e Tecnologia, tanto na produção de pesquisa, quanto inspirando mais meninas e mulheres para atuar nessas áreas”, afirma o secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Aldo Bona.
Além da docência, entre alunos também há uma presença feminina cada vez maior. Em todas as instituições estaduais são 102.696 pessoas – abrangendo alunos, professores e servidores de áreas de apoio – e 59.308 são mulheres, ou 57,7% do total. Os dados são do último levantamento, realizado em 2023.
Para exemplificar essa história, a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior separou três perfis de pesquisadoras paranaenses que estão arrebentando em seus trabalhos.
ROSANE MARINA PERALTA
A professora Rosane Marina Peralta iniciou a sua primeira graduação em Farmácia em 1976 e desde 1982 é professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Possui duas graduações, uma em Farmácia e a outra em Nutrição. No mestrado e no doutorado, deu sequência nos estudos em Bioquímica.
Rosane coordena o Laboratório de Bioquímica de Microrganismos e de Alimentos (LBM) da UEM, que iniciou suas atividades em 1990. O foco das pesquisas desenvolvidas no laboratório é compreender as interações positivas dos microrganismos com seres vivos e o ambiente. Já orientou mais de 130 estudantes, tem mais de 250 artigos científicos divulgados em revistas de circulação internacional e dezenas de capítulos de livros publicados.
O trabalho realizado pela professora já foi reconhecido diversas vezes. Em 2014 ela foi vencedora do Prêmio Paranaense de Ciência e Tecnologia, promovido pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti). Em 2019 recebeu o Prêmio Mulheres Brasileiras em Química e Ciências Relacionadas, na categoria “Liderança na Academia”.
É uma das cientistas mais influentes do Brasil na área da Biologia e Bioquímica, de acordo com a plataforma Research.com, ocupando a posição 68º no ranking. “Tenho grande satisfação de ser uma pesquisadora de destaque na área, além de ter contribuído para a formação de vários pesquisadores”, afirma.
Nesses 48 anos em contato com a produção científica, notou que a presença de mulheres tem aumentado gradualmente. “As mulheres lenta e gradativamente vêm ocupando seu lugar na ciência. Mas os desafios são muitos, incluindo conciliar a vida familiar com a pesquisa, além de conquistar seu espaço em um mundo ainda muito dominado pelos homens”, explica a professora.
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JASMINE CARDOZO MOREIRA
O termo “ciência” remete aos laboratórios e elementos químicos, mas o conhecimento científico também pode ser produzido em parques e florestas, como é o caso dos estudos da professora Jasmine Cardozo Moreira.
A turismóloga é professora na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), mestre em Gestão do Território e doutora em Geografia. Seus estudos são relativos a áreas naturais, como parques estaduais. A pesquisa que desenvolveu durante o doutorado sobre patrimônio geológico em unidades de conservação, recebeu Menção Honrosa do Prêmio Capes de Tese em 2009, premiação que reconhece os melhores trabalhos de conclusão de doutorado no Brasil.
Atualmente coordena o Laboratório de Turismo em Áreas Naturais, que desenvolve projetos ligados ao ecoturismo, turismo de aventura e geoturismo, visando aproximar a sociedade às áreas protegidas.
A trajetória científica de Jasmine é destaque internacional. Atualmente ela é professora visitante da Universidade de West Virginia, na região sul dos Estados Unidos, e desenvolve pesquisas em parceria com o Serviço Florestal Americano.
No país norte-americano, a professora participou da elaboração da proposta de criação do Geopark Appalachia, que deverá ser o primeiro geoparque do país. Um geoparque é um território protegido que tem relevância geológica internacional e é utilizado de forma sustentável.
“Essa proposta resultou em um dos momentos mais importantes para mim, que foi quando dei uma palestra na sede do Serviço Geológico dos Estados Unidos, referência mundial na área. Eu tratei de um tema que eles desconhecem, os geoparques”, afirma.
Ela integra comissões da União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN), uma das organizações mundiais mais importantes e influentes na conservação da natureza. Já deu três palestras na China, e está se preparando para mais uma palestra, que acontecerá em março, a convite da Universidade de Turismo de Sichuan, em Chengdu, sudoeste da China, na Conferência Internacional de Turismo em Montanhas e Parques Nacionais.
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HELIANE BARBOSA FONTENELE
Além da presença feminina na pesquisa científica ter aumentado, o desempenho das mulheres é notável, como explica a professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Heliana Barbosa Fontenele.
Heliana é engenheira civil e professora do Departamento de Construção Civil. No mestrado e doutorado deu sequência aos estudos sobre pavimentação. A sua pesquisa recebeu o prêmio de Melhor Tese de Doutorado, em 2013, pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR). Em 2008 recebeu o prêmio de Melhor Trabalho na Área de Rodovias da Associação Nacional de Infraestrutura de Transportes (ANDIT).
Seus estudos são direcionados para a área de infraestrutura de transportes e mobilidade sustentável. Realiza pesquisas sobre gerência de pavimentos em busca de soluções técnicas adequadas e de baixo custo para as cidades. Também desenvolve projetos de acessibilidade urbana para idosos.
“Ao longo dos anos temos percebido que o número de mulheres ingressantes no curso de Engenharia Civil tem crescido, mas não é só isso, elas se mantêm no curso. Ou seja, muitos vão ficando para trás e elas tendem a continuar. Nos anos finais da graduação temos percebido que as mulheres chegam a representar 20%, 30%, ou até mais, de alunos da turma. Uma situação diferente de décadas anteriores”, complementa.